31 julho 2018

Quem é você?



















Tem coisas na vida, que entalam na garganta forte, e se recusam a descer. Uma delas é perceber que aos 30, você não é nem um lampejo do que sonhou pra si mesmo. Mas será que esses sonhos são realmente meus? Mas espera! Eu não tô aqui pra reclamar da minha condição privilegiada. Eu tô aqui pra falar de como as expectativas sociais, talvez tenham me privado de ser muito mais, por muito tempo.

Eu sou uma mulher de 30 anos, nascida no Rio de Janeiro, criada com bastante regalias. Já fui pra Disney, morei na Zona Sul boa parte da minha vida, já tive motorista, estudei em ensino particular a vida toda, tive casa de veraneio, fiz curso de inglês, de teatro, de música e morei com os meus pais até quase 25 anos. Privilégios atrás de privilégios. 

Mas deixa eu dizer uma coisa pra vocês... Nada disso foi de graça. Em troca disso tudo, eu tive um infância/adolescência com muuuuitas cobranças e expectativas. Minha família esperava que eu fosse "alguém" na vida. Pra maior parte da sociedade, isso significa passar no vestibular (hoje em dia é no ENEM), se formar, ganhar dinheiro, ter um carro, um imóvel no seu nome e se for esforçado, passar num concurso público e estar seguro financeiramente. 

Pois bem. Eu segui na contramão dos paranauês todos. Fui mãe com 24 anos. Me formei na faculdade aos trancos e barrancos. Foi brabo. Cursei Publicidade e Propaganda. Que TODO MUNDO SABE que só dá dinheiro se você for o dono da agência, um escravo que vira noites em claro trabalhando igual um maluco, ou tiver um Q.I. (quem indica mesmo) fortíssimo! Eu obviamente não sou nenhum dos 3. E isso me gerou uma enorme frustração dps de formada. Eu não tinha como me matar de trabalhar com um bebê recém nascido. E eu não tenho costas quentes. Apresentei meu TCC grávida. Me formei 1 ano depois. E eu não conseguia nada. 

Me separei do pai da minha filha. E a situação piorava cada vez mais. Seguia fazendo freelas. Mal paga, mal conseguia pagar comida e contas por um bom tempo. Mas era minha única opção com um bebê em casa, e ninguém pra ajudar fisicamente. Minha família longe e impossibilitada. Eu me questionava o tempo inteiro pq não dava certo pra mim. Eu me frustrava sempre que tentava me encaixar e não conseguia.

Descobri que era mais que frustração. Era depressão. Em alguns dias, a sensação era de que o mundo ia me engolir e eu ia desaparecer. E achava que ninguém sentiria minha falta se isso acontecesse. Por muitas vezes sentei no chão do banheiro desejando que a minha vida acabasse. A minha alegria de viver foi indo embora aos poucos. Era cada vez mais difícil ter uma boa noite de sono. Às vezes, nem conseguia dormir. Eu já não tinha mais vontade de sair de casa. De ver ou falar com ninguém.  Eu queria criar. Desenhar, bordar, pintar, escrever... mas eu tava numa jaula dentro da minha própria mente. Eu não tinha forças. Eu chorava o tempo inteiro. A sensação era de impotência. Eu queria sumir.

Meu pai me ajudou com o aluguel desde a minha primeira separação. E isso me frustrava ainda mais. Afinal, eu já deveria ter o meu próprio dinheiro. Eu já deveria ter a minha vida nos eixos. Mas quem disse?? Eu hoje sei que tenho feito o melhor que eu posso todos os dias. Trabalho de 9 às 23h pra arcar com as contas e as despesas. E sim. Muitas vezes ainda me sinto como antes. Mas hoje eu SEI que essas expectativas sociais, não são minhas. E isso não é a felicidade. 

Eu conheço tanta gente que tem tudo, e não é feliz... tanta gente que acha que ter um carro, é mais bonito do que simplesmente reconhecer o privilégio que é poder acordar e ter a oportunidade de começar tudo outra vez... E eu posso dizer que eu sou feliz. Simplesmente pq eu não sou assim. 

Demorei. Mas percebi que quem eu sou, não depende do que eu tenho, ou do que pensam e esperam de mim. E se não fossem essas expectativas desleais, eu já poderia ser muito mais! 






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